FOTO: GUSTAVO ALEIXO / FLICKR OFICIAL / CRUZEIRO E.C.
A campanha do Cruzeiro no Brasileiro Sub-20 é bem distante do que o clube está acostumado a apresentar. Segundo maior vencedor da competição com quatro conquistas (2007,2010, 2012 e 2017), a Raposa amarga a 19º posição da competição, com 14 pontos em 17 jogos, a frente apenas do Santos nos critérios de desempate (saldo de gols). São 10 partidas sem vitória, com nove derrotas e um empate no período. A última vitória aconteceu diante do Palmeiras, em 18 de outubro, no Sesc Venda Nova, em Belo Horizonte.
Uma semana antes do início da competição, a comissão técnica sofreu alterações importantes. O técnico Rogério Micale deixou o comando por divergências com a diretoria de futebol, dando lugar a Gilberto Fonseca, levado ao clube por Ricardo Drubscky (demitido em outubro) para treinar o Sub-17 e que anteriormente fora seu auxiliar. A equipe ainda enfrentou alguns problemas internos durante a competição, como o afastamento e dispensa de atletas devido a um ato de indisciplina após o duelo contra a Chapecoense, você pode relembrar clicando aqui. Mais de 15 contratações foram feitas para atender a categoria e alguns jogadores foram registrados somente após a queda do transfer ban, no fim de outubro.
Nas duas rodadas restantes da fase classificatória o Cruzeiro enfrentará no próximo domingo o Athlético Paranaense, vice líder com 33 pontos, no Sesc Venda Nova, e o Atlético-MG (1° com 34) uma semana depois no mesmo local. Com quatro vitórias, dois empates e 11 derrotas em 17 partidas, a campanha atual da Raposa é bem diferente do desempenho obtido no ano passado, quando o time se classificou para às quartas de final em 5° lugar e foi eliminado para o Palmeiras. Os oito mais bem colocados avançam às quartas de final, a serem disputadas em partidas de ida e volta. O mesmo ocorre na semifinal e na final.
A reportagem do DMD entrou em contato com o diretor da base celeste, Gustavo Ferreira, para entender os motivos que levaram o Cruzeiro a uma campanha tão aquém do esperado.
1- Quais os principais motivos que você acredita serem responsáveis pelo momento da má-fase dos times da base do Cruzeiro (o sub-20 está em 19º no Campeonato Brasileiro, com 9 derrotas e 1 empate nos últimos 10 jogos e o sub-17 foi eliminado na Copa do Brasil pro Grêmio Santo Antônio-MS e ficou em 7º no grupo B do Brasileiro) ?
Muitos jogadores da nossa equipe de juniores estão no time profissional ou foram negociados (Paulo, Matheus Pereira, Jadsom, Marco Antônio, Stênio, Thiago, Edu, Popó, Caio Rosa e Mauricio). Encontramos várias posições sem atletas disponíveis e tivemos que antecipar a transição. Foi preciso fazer uma grande reformulação em plena pandemia e com uma punição que impedia registrar atletas. Sabíamos que teríamos dificuldades.
No caso do Sub-17, a geração 2004 foi prejudicada no ano passado ficando fora de competições nacionais, por conta de uma punição e no segundo semestre faltava verba. Este ano tivemos que começar o Campeonato Brasileiro com esses jovens, já que devido a punição da FIFA não era permitido a inscrição novos atletas. Quando a punição acabou, tivemos a chance de inscrever atletas 2003 e fizemos uma campanha que daria a classificação para a fase final. Sobre a Copa do Brasil, a eliminação não deveria ter acontecido, mas devido aos casos de Covid-19 e as lesões no Sub-20, tivemos que subir atletas para compor. Com isso, infelizmente o resultado não foi o esperado.
2- O presidente mantém um discurso de que a base é a salvação do clube (tanto técnica, quanto financeira) mas diante dos resultados e das polêmicas recentes, a base não fica desvalorizada? Como realizar uma boa transição ou vender por um bom valor com esse rendimento?
Quando essa gestão assumiu, sabia que teria um desafio muito grande. Um desafio a médio e longo prazo. Tivemos muita dificuldade para avaliar os elencos e suas carências em razão da pandemia e pelo transfer ban. O processo é de restruturação, temos certeza de que para o ano que vem as coisas serão diferentes. Os resultados não foram bons, mas são vários atletas que subiram para o profissional, quatro negociados, sendo que três em definitivo e um emprestado. Um clube gigante como o Cruzeiro sempre tem que lutar por vitórias, mas o objetivo da base é formar para o profissional e ajudar o clube financeiramente. Acredito que vários atletas saem valorizados.
3- Sobre a saída e o afastamento dos atletas que se envolveram em uma polêmica em Chapecó-SC, não foi uma medida muito dura e desproporcional, em que o clube deveria ter exercido um papel mais de educador do que punitivista? Uma vez a própria base tem também o papel de formar pessoas além de atletas.
A gente concorda que a base tem o papel de formar pessoas além de atletas. Foi muito duro para nós tomarmos essa decisão, mas foram diferentes fatos recorrentes que nos levaram a tomar uma atitude tão drástica dessa maneira. A decisão foi tomada pela Instituição, não só por uma ou outra pessoa. Os próprios atletas ajudaram a construir o documento de código de ética da base, e eles não cumpriram com coisas que concordaram e escreveram junto com nossa equipe de assistência social, psicologia e pedagogia. O Clube tem feito diversas apresentações, inclusive para a imprensa, do trabalho de formação que vem sendo feito de forma multidisciplinar, avaliando e monitorando todos os aspectos de formatação e preparação dos jovens. Hoje temos uma coordenação técnica e uma coordenação metodológica, tudo isso sem aumentar os custos mensais em relação ao ano passado.
4- Como você julga e qual vem sendo a grande diferença das campanhas do sub-20 do ano passado (terminou em 5º no Brasileiro) em relação a campanha atual? Quais foram as mudanças drásticas na base que acarretaram nesse momento?
A diferença do ano passado para este, é que subiram vários atletas para o profissional e outros foram negociados. Esse processo de reconstrução leva tempo, não é de um dia para noite que você monta uma equipe Sub-20 nova. Lamentamos muito o que aconteceu com os meninos que foram afastados do Clube, mas mesmo com eles aqui os resultados já não eram os ideais e estamos trabalhando para reconstruir. Como falamos anteriormente, estamos montando nossas equipes em meio a uma pandemia e com o problema da punição que atrapalhou na montagem dos elencos. Não é possível construir novos times de uma hora para outra. Estamos reforçando nossa captação para buscar atletas sem fazer altos investimentos, e isso é um projeto de médio e longo prazo. É preciso frisar que temos somente cinco meses de trabalho e no meio de uma pandemia. Temos que analisar que a posição na tabela na base não é reflexo do trabalho, visto que o Santos tem pontuação igual à nossa e é sabiamente um clube que revela bastante para o profissional e mercado externo.