Juros pagos pelo Atlético são maiores que a expectativa de receita da Arena MRV por ano

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FOTO: BRUNO SOUSA / ATLÉTICO

O Atlético está muito perto de ver sua casa própria ser finalizada. Com previsão de inauguração para o segundo semestre de 2023, a Arena MRV foi uma ideia concebida por conselheiros e membros da diretoria, ainda em 2013, quando o clube disputou em Marrocos o Mundial de Clubes da FIFA e tem como principal objetivo mudar o patamar do clube no cenário nacional e mundial.

Entretanto, o que era um sonho plausível de se tornar realidade dentro de um orçamento inicial – estipulado em 450 milhões de reais – acabou se tornando um grande problema que, antes mesmo de sua estreia, já apresenta números preocupantes dentro de um clube onde o contexto das dívidas, que já ultrapassam os R$1,4 bilhão, afetam diretamente o fluxo de caixa e as obrigações financeiras.

Dos vários contratempos que a Arena MRV representou para o Atlético nos últimos anos, um deles foi a pandemia da Covid-19, que assolou o mundo e gerou uma grande inflação em proporções inimagináveis. Para conter essa mesma inflação, os Bancos Centrais das principais economias do mundo aumentaram suas taxas de juros, o que afetou diretamente o Atlético e todo o processo de construção do seu estádio.

Para conseguir finalizar as obras e conseguir entregar a Arena MRV dentro do esperado, o Atlético optou por realizar uma captação de recursos através dos “CRIs”, que são “Certificados de Recibos Imobiliários”. Ao todo, R$440 milhões foram captados e a dívida distribuída em fundos de investimento. Para poder realizar essa operação, que aconteceu em agosto de 2022, o clube deu em garantia, além do seu aval, todos os recebíveis de geração de receitas da Arena MRV, como bilheteria, estacionamento e camarotes.

Além disso, o clube vem de forma sistemática buscando recursos para se manter dentro dos seus vencimentos através do empréstimo de créditos com instituições financeiras, principalmente o Banco Inter. Para a construção da Arena MRV, o clube pegou um empréstimo adicional de R$140 milhões com o Banco Inter, valor que foi abatido posteriormente com a venda de 24,9% das ações que o clube tinha do Shopping DiamondMall.

Neste ponto é importante ressaltar que a ideia inicial era que a própria Arena MRV seria a responsável por gerar receitas suficientes para quitar suas dívidas em um prazo de até oito anos.

A dor de cabeça dos juros

A grande dor de cabeça da cúpula que hoje está à frente do Atlético, neste momento, é a respeito da taxa de juros (CDI) que está em 13,75%. Como os “CRIs” foram precificados ao custo de “CDI + 5%”, o clube terá que arcar com uma despesa de juros de aproximadamente R$82,5 milhões ao ano, o que inviabiliza a previsão inicial de amortização da dívida dentro de oito anos.

Segundo apurações da nossa reportagem, o valor de juros pagos hoje pelo Atlético é maior do que a capacidade de geração de resultado da Arena MRV no ano, mesmo que em pleno funcionamento. Desta forma, a diretoria entendeu que a entrada do estádio dentro de uma possível negociação das ações da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) que poderá ser concretizada em breve, é mais do que necessária.

O entendimento é que, sem um aporte considerável de dinheiro, além da assunção das dívidas do próprio estádio, e com os juros atuais, o pagamento das dívidas realizadas para a construção da Arena MRV se tornou inviável, mesmo com uma projeção de grande arrecadação a longo prazo.

Atualmente, a diretoria tem negociado a possibilidade de negociar a SAF do Atlético com o empresário Peter Grieve, CEO do grupo “The Football Co”. As últimas informações apuradas por nossa reportagem, dão conta de que há uma grande possibilidade de, tanto a Arena MRV quanto o centro de treinamentos da Cidade do Galo, entrarem no acordo entre as partes. Desta forma, Grieve assumiria de forma majoritária não apenas o futebol do Atlético, mas também o patrimônio do clube.

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