Análise: Hamilton e Mercedes cometeram sucessivos erros em temporada quase perfeita de Verstappen

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A temporada 2021 da Fórmula 1 contou a bela história protagonizada por Max Verstappen e Lewis Hamilton que travaram duras batalhas e lutaram até o fim pelo título mundial no Campeonato de Pilotos. De um lado o maior piloto de todos os tempos – ao menos nas estatísticas – que buscava o inédito oitavo título mundial. Do outro, a jovem promessa que chegou à F1 com apenas 17 anos e finalmente tinha um carro que lhe permitia brigar constantemente por vitórias.

O desfecho todos já sabem: Verstappen superou Hamilton na última volta do GP de Abu Dhabi e conquistou o tão sonhado título. Tudo isso graças a uma temporada irretocável onde praticamente não cometeu erros, ao contrário de seus tão consolidados rivais.

Ao longo de 22 corridas, é comum cometer alguns deslizes aqui e ali, e isso de fato aconteceu com o conjunto Max/Red Bull. Inclusive, logo após a quarta etapa realizada em Barcelona – época em que publiquei aqui no portal os sucessivos erros dos energéticos – o time austríaco entrou nos trilhos e começou a dominar o campeonato. Vai ver eles leram o texto aqui no Deus Me Dibre, vai saber!?…

Em contrapartida, naquele momento os erros de Hamilton e Mercedes começaram a se tornar frequentes. Mas o primeiro deles aconteceu ainda na segunda etapa da Fórmula 1 nesse ano, no circuito de Ímola.

GP da Emília Romanha – Salvo pela sorte

A etapa que aconteceu em Ímola talvez seja um dos maiores exemplos das ‘sortes’ que Hamilton teve em sua carreira. No sábado Lewis classificou na pole position enquanto Verstappen foi apenas o terceiro. Contudo, no domingo, o inglês teve uma largada péssima no apagar das luzes e perdeu a liderança na Variante Tamburello justamente para Max. Na tentativa de defender a posição, o inglês ainda saiu com a asa dianteira danificada.

Na volta 31, ao tentar ultrapassar o retardatário Geroge Russell, Hamilton pisou no molhado, perdeu o controle do carro e foi parar no muro próximo a uma caixa de brita. O heptacampeão perdeu muito tempo com isso, porque não conseguia acionar a ré para tirar o seu carro do muro. Dessa forma, caiu de segundo para sétimo, uma volta atrás de Max.

A sorte de Hamilton foi que Bottas e Russell se envolveram em um forte acidente e a bandeira vermelha foi acionada. Isso deu a Lewis  o direito de retirar a volta de atraso e, com a corrida paralisada, foi possível trocar os pneus e reparar os danos causados no W12.

A partir daí, foi preciso uma corrida de recuperação para fechar a etapa italiana em segundo lugar. Resultado que, dado o contexto, soou como uma vitória.

GP de Mônaco – Primeiro pesadelo

As características do circuito do principado eram favoráveis ao carro da Red Bull e já se esperava uma vitória por parte dos taurinos. Contudo, o que se viu não estava nem nos piores sonhos da Mercedes. Hamilton não se encontrou bem com o acerto do carro naquele fim de semana e foi apenas o sexto mais rápido na classificação no sábado.

E detalhe, Bottas estava muito bem naquela corrida e terminaria em segundo, não fosse uma falha na troca dos pneus que forçou o abandono do finlandês.

As ruas do principado não oferecem muitos pontos de ultrapassagem. Então, no domingo, a Mercedes tentou uma estratégia diferente nos pits para fazer Lewis ganhar algumas posições. Não deu certo e o inglês terminou em sétimo, enquanto Verstappen venceu a corrida de ponta a ponta. O resultado colocou Max na liderança do campeonato com 104 pontos, contra 99 de Hamilton.

GP do Azerbaijão – Hamilton passa reto

Apesar de ter sido apenas a sexta etapa da Fórmula 1 em 2021, foi um momento chave para a consolidação do título mundial de Verstappen.

As trapalhadas começaram pela estratégia nos boxes (de novo) que fez com que Hamilton caísse de primeiro para terceiro, atrás das duas Red Bull.

Lewis teve a chance de contornar a situação quando, faltando 5 voltas, Max sofreu um furo de pneu e bateu na reta principal, provocando bandeira vermelha.

A corrida reiniciou com duas voltas para o fim e Hamilton partia do segundo lugar. Na largada, o inglês tracionou bem, ultrapassou Pérez e assumiu a liderança. Contudo, acidentalmente acionou o botão “mágico” no volante do W12 que altera a distribuição dos freios traseiros e dianteiros. Isso fez o heptacampeão passar reto na primeira curva.

Sem tempo para se recuperar foi apenas o 16º e viu 25 pontos serem jogados pelo ralo por um erro evitável. Com isso, Verstappen manteve os 5 pontos de vantagem na liderança.

GP da Hungria – Mais um erro de estratégia

A Hungria foi a 11ª etapa da Fórmula 1 em 2021 e marcou a última corrida antes da pausa para as férias de verão. Hamilton poderia ter vencido facilmente em Hungaroring, não fosse mais uma trapalhada da Mercedes. Graças ao piso molhado, Valtteri Bottas errou a freada da primeira curva e bateu em Verstappen, Pérez e Norris. Stroll, que vinha um pouco mais atrás acertou Riccardo e Leclerc. A confusão fez a corrida ser interrompida com bandeira vermelha.

No momento de realinhar os carros no grid para uma nova largada todos os pilotos, inclusive Hamilton, perceberam que as condições não exigiam mais pneus de chuva. Com isso,  os carros foram chamados aos boxes para calçar os compostos de pista seca. A Mercedes optou por não trocar os pneus de Hamilton.

A decisão, além de gerar uma das cenas mais bizarras da Fórmula 1 em que um carro alinhou sozinho no grid, fez Lewis perder tempo em relação aos adversários. Com isso, parou nos pits na volta seguinte e voltou para a pista em 13º. Hamilton fez uma corrida de recuperação e cruzou a linha de chegada 3º. Contudo, uma punição foi aplicada a Sebastian Vettel, que foi desclassificado, e Lewis herdou o segundo lugar.

O resultado  levou o heptacampeão à liderança do Mundial com 190 pontos contra 181 de Verstappen. Contudo, a vantagem poderia ser facilmente de 16 pontos em vez de 9.

GP da Itália – Erros que custaram a vitória

A etapa em Monza talvez tenha sido a que o conjunto Hamilton/Mercedes mais tenham errado no ano. E o pior é que era uma pista para sair com a vitória.

No sábado, a dupla da Mercedes dividiu a primeira fila para a largada da corrida Sprint. Contudo, o piloto do carro #44 tracionou mal no apagar das luzes e, após a primeira chicane, caiu para o sexto lugar. No fim da corrida foi quinto.

No domingo Lewis tinha um bom ritmo de corrida até o momento que abriu a janela de pit-stops. Na volta 24 Verstappen foi aos boxes, mas graças a uma falha na pistola pneumática o holandês ficou eternos 11 segundos parado. Na mesmo instante Hamilton ultrapassou o líder Norris e tinha tudo para vencer a corrida.

Pena que Mercedes também errou em sua parada. Na volta 26 o inglês foi aos boxes e ficou 4.2s parado, o suficiente para voltar à pista dividindo a Variante del Retifillo com Max. O contato foi inevitável e os postulantes ao título terminaram a corrida na caixa de brita.

Não fossem os erros ao longo do fim de semana, Lewis poderia ter vencido em Monza, pista com retas longas e curvas de alta velocidade que favoreciam o carro da Mercedes.

Verstappen campeão da Fórmula 1 em 2021 por ser mais consistente

Primeiro é importante ressaltar que, apesar da derrota e de alguns vacilos, é possível que essa tenha sido a melhor temporada de Lewis Hamilton na Fórmula 1. As atuações no Brasil, e em Abu Dhabi e as belas corridas de recuperação em Ímola, Silverstone e Hungria sem dúvidas ficaram marcadas na história do piloto.

Porém, os acontecimentos citados custaram muito caro para Hamilton no final do ano. Afinal, esses erros dependiam apenas de si mesmo e de sua equipe para serem evitados.

E podem até argumentar que Verstappen foi muito prejudicado no acidente de Silverstone e da Hungria. E, de verdade, foi mesmo. Contudo, aquelas situações fugiam de seu controle, visto que nas duas ocasiões ele foi “atropelado” por um carro da Mercedes.

É muita ingratidão atribuir o título de Verstappen em 2021 à bandeira amarela causada por Nicholas Latifi a 5 voltas do final do GP de Abu Dhabi. É claro que aquele incidente ajudou muito, porém, quando pegamos e analisamos a temporada do holandês, ele terminou praticamente todas as corridas em primeiro ou segundo lugar.

O único vacilo de Max, desde o GP de Barcelona até o final da temporada, foi na Itália quando ele tentou forçar uma ultrapassagem em Lewis e acabou tirando os dois da corrida.

A temporada 2021 da Fórmula 1 certamente ficará marcada na história como um duelo entre diferentes gerações – similar ao que foi Alonso e Schumacher em 2005 e 2006. E a sorte é dos fãs, que puderam ver Hamilton e Verstappen guiarem o fino ao longo de 22 corridas.

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