Para que o Cruzeiro tenha retorno substancial com a base, a mesma precisa deixar de ser estepe

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FOTO: BRUNO HADDAD / FLICK OFICIAL / CRUZEIRO E.C.

Durante a noite da última quarta-feira as redes sociais ferveram, principalmente no Twitter, em relação ao meia-atacante Maurício e o zagueiro Bruno Viana. O jovem de 19 anos teve uma exibição de destaque pelo Colorado na vitória por 2 a 0 diante do Caxias, com duas assistências e acalorados elogios do técnico Miguel Ángel Ramírez, que deixou o Independiente Del Valle para topar seu primeiro desafio no Brasil.

Maurício é um craque, é top. E vai ser top. Me parece um jogador com condições incríveis, muito boas. Para mim, é mais de meio do que de ponta. Inclusive antes da troca estávamos vendo se saía Praxedes ou Patrick. Ele nos ajudou primeiro por fora, mas sabíamos que terminaria por dentro. Dá muita profundidade, tem muito bom controle de bola e finalização. Tem condições incríveis. Se seguir treinando como treina, vai ser um jogador superimportante para o Inter”.

Bruno Viana recebeu as primeiras oportunidades nos profissionais do Cruzeiro em 2016, mas foi com o técnico Paulo Bento que o garoto ganhou confiança para jogar. Na época, o português considerava o principal nome para abastecer o mercado europeu e seu prognóstico estava certo. O treinador levou o garoto para o Olympiakos, deixando 6 milhões de reais nos cofres da Raposa. Da Grécia chegou ao Braga, de Portugal, onde atuou por 4 temporadas e foi sondado por clubes da Premier League e Itália. Atualmente emprestado ao Flamengo, vem de duas atuações destacadas e seu “passe” está fixado em 7 milhões de euros (cerca de R$ 46,6 milhões). Caso fique em definitivo, o Cruzeiro terá direito a R$ 1,3 milhões pelo mecanismo de solidariedade da FIFA.

https://twitter.com/Footstats/status/1374916764262367235?s=20

De fato, Maurício surgiu com grande expectativa no Cruzeiro desde sua chegada do Desportivo Brasil em 2018. Rapidamente galgou degraus nas categorias inferiores, saltando do Sub-17 para o Sub-20 em 2019 e sendo um dos principais jogadores da equipe. Seu início entre os profissionais foi oscilante, mas durante o Campeonato Mineiro de 2020 obteve bons números e seu rendimento chamou a atenção do City Group, empresa que gerencia diversos clubes pelo mundo e atua também na prospecção de talentos. No entanto, Maurício oscilou – normal para qualquer jovem – e logo foi alvo de muitas críticas da torcida e perdeu espaço. Ainda assim, seguia prestigiado com constantes convocações para Seleção Brasileira Sub-20 e foi artilheiro da categoria com 6 gols em 2020.

Em novembro de 2020, o Cruzeiro fez a troca de Maurício por William Pottker, jogador que o então técnico do clube, Luiz Felipe Scolari, fez questão de buscar. A Raposa manteve 40% dos 60% que detinha dos direitos econômicos do meia e, nesse ano, cedeu 10% do que possuía pela chegada do atacante Bruno José, restando agora 30% do jogador. Em um breve exercício de futurologia, já que não sabemos o nível que Maurício pode atingir, numa conta básica, se o Internacional negociar o atleta na próxima janela por 5 milhões de euros, o Cruzeiro terá direito a aproximadamente 1,5 milhões, o que renderia quase 10 milhões de reais aos cofres celestes. Se ele explodir e sair pelo dobro ou triplo desse valor hipotético, algo entre 20 ou 30 milhões seria do clube. Significativo.

https://twitter.com/Footstats/status/1374919433840422920?s=20

Cenários como esse demonstram como é importante a paciência e um planejamento para o aproveitamento desses garotos. Um treinador que esteja alinhado a esse conceito e não tenha medo de lançar um jovem, que eventualmente passará por erros e oscilações é o caminho para que o clube consiga sanar tantos problemas financeiros de curto prazo. Atualmente, está difícil até mesmo manter os salários em dia. Durante a Série B, Cacá perdeu espaço para o Ramon e sua venda rendeu pouco mais de R$ 6 milhões ao Cruzeiro. No atual contexto, esse suicídio financeiro precisa ser estancado e, pra isso, é preciso convicção para que medalhões de qualidade mediana não passem na frente simplesmente pela “experiência”.

Também no ano passado, o jovem zagueiro Edu foi negociado com o Athlético Paranaense por 500 mil euros (R$ 3 milhões) com somente 3 jogos no profissional. Em 2018, o Cruzeiro recusou uma oferta de 900 mil euros pelo defensor, o que na época renderia quase R$ 4 milhões. Detalhe: ele sequer havia atuado profissionalmente. Mais recentemente, o atacante Caio Rosa foi negociado por 600 mil dólares (R$ 3,4 milhões) após somente quatro jogos pelos profissionais. Em contrapartida, o clube apostou em promessas de fora, como Claudinho e Aírton, que ainda não se firmaram, mas encontram essa paciência e recebem minutagem no time principal.

Paulo tem 18 anos e, atualmente, é tratado como um dos zagueiros mais promissores da sua geração. Seu vínculo com o Cruzeiro vai até o fim 2023. Sua multa rescisória está fixada em R$ 330 milhões. Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Em 2019 foi a vez do zagueiro Paulo receber uma oferta de empréstimo com passe fixado 300 mil euros do Sporting, de Portugal. Tratado como um dos principais defensores da sua geração, Paulo pede passagem e já poderia estar atuando entre os titulares, mas Eduardo Brock, de 29 anos, passou na sua frente. É verdade que o garoto passou por problemas familiares que o deixaram ausente dos primeiros duelos, mas é preciso que haja um consenso no departamento de futebol profissional que, com a saída de Cacá, o próximo da fila a ganhar minutos e conseguir atrair boas propostas é ele.

Por fim, os últimos anos vem mostrando que a política de utilização da base dentro do Cruzeiro é lançar jogadores sem convicção – Caio Rosa subiu e desceu quatro vezes entre profissionais e Sub-20 – e depender do imponderável para que deem retorno. Matheus Pereira esteve para ser emprestado para Portugal numa temporada onde quatro laterais não corresponderam. Depois de alguma pressão da torcida, foi colocado no jogo contra o América-MG pela Série B e não saiu mais. Adriano demorou a receber oportunidades e depois se mostrou um volante confiável, crescendo na reta final da competição. Marco Antônio, clássico camisa 10 que passou por um longo período de preparação física e ganho muscular aguarda uma oportunidade, enquanto Alan Ruschel foi testado até mesmo no meio-campo.

O Estadual serve para testes e encorajar os garotos nesse panorama é fundamental para que cheguem prontos a Série B. Para que a base dê retorno substancial ao clube, é preciso que o mesmo a veja como fundamental, e não como estepe para emergências.

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