Em baixa no Inter, Pottker encaminha acerto com Cruzeiro. Como extrair seu melhor?

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FOTO: RICARDO DUARTE / FLICKR OFICIAL / S.C. INTERNACIONAL

O Cruzeiro encaminhou um acordo com o Internacional pela contratação do atacante William Pottker, de 26 anos. Os jornalistas Leo Gomide e Victor Martins foram os primeiros a divulgarem o interesse. Os detalhes ainda não foram divulgados, porém conforme informou o Globo Esporte, o clube gaúcho quer uma compensação, seja financeira ou troca de jogadores, pela liberação. Analisando dentro das quatro linhas, como o atacante pode agregar no time do contestado Enderson Moreira?

Primeiramente, vale salientar que Pottker nunca foi unanimidade no Internacional. O atleta chegou ao Beira-Rio em 2017 com as credenciais de ter sido o artilheiro do Brasileiro de 2016 marcando 14 gols e dando duas assistências em 31 jogos e do Paulista do mesmo ano com 9 gols e duas assistências em 17 jogos pela Ponte Preta, num acordo que envolveu o valor de aproximadamente R$ 6,5 milhões. Seu contratado com o colorado vai até 31 de maio de 2021.

O jogador se recupera atualmente de uma lesão na coxa e seu último jogo pelo Inter foi negativo: acabou expulso contra o Atlético-GO. Alvo de críticas da torcida, uma mudança de ares pode ser importante para que retome o bom futebol. Entre altos e baixos, suas principais características são: força física, velocidade e capacidade de romper linhas defensivas buscando a finalização. Negativamente, pesa contra o jogador a dificuldade na tomada de decisão quando chega no último terço, já que tende a dominar a bola, “abaixar a cabeça e correr” e as constantes lesões musculares. Foram aproximadamente nove em três temporadas, tendo participado apenas de 21 jogos dos 73 jogos do clube no ano passado, quando teve cinco.

Características

Posicionamento do atleta durante sua passagem pela Ponte Preta e Internacional. Fonte: Sofascore.

William Pottker é um atacante hibrido. Canhoto, pode atuar pelo lado esquerdo ou direito em posição de amplitude num 4-2-3-1 ou 4-4-2. Pela Ponte Preta, onde viveu seu melhor momento, atuou quase sempre como um atacante pelo lado direito, dando profundidade e sendo alvo de bolas longas em transição, se aproveitando do seu arranque e velocidade, ganhando vários duelos na força física e capacidade de ruptura de linhas defensivas. O modelo reativo (quando a equipe se posiciona defensivamente em bloco baixo, para roubar a bola e então contra-atacar) utilizado por Eduardo Baptista (Brasileiro’16) e Gilson Kleina (Paulista’17) casavam perfeitamente com seu estilo rompedor e veloz.

Seus melhores momentos sempre foram posicionados próximo ao lado direito, sendo uma ameaça ofensiva satisfatória para contra-ataques, com base no estilo de jogo de suas equipes, conforme descrito. É um jogador com boa capacidade de atuar em transições da equipe (defensivas e ofensivas), algo importante para esse Cruzeiro que vê nos atletas que atuam pelo lado (principalmente esquerdo) alguma dificuldade nessa questão. Pela velocidade e força física, consegue vencer duelos individuais, seja no momento ofensivo ou na recomposição pressionando o portador da bola.

Também já foi utilizado de forma centralizada esporadicamente, exercendo o papel de centroavante. Contudo, enfrentou muitos problemas para atuar de costas para o gol, principalmente recebendo lançamentos dos companheiros. Afinal, se destaca ao receber a bola com campo para correr, não tendo que fazer o giro e superar a primeira pressão dos defensores. Quando precisa buscar um jogo mais associativo próximo aos meias, sua principal característica fica limitada. Pottker não é um jogador ideal para o “ataque posicional” vislumbrado por Enderson. Nele, os jogadores assumem uma posição com o objetivo de desestruturar a defesa adversária. No Cruzeiro, o lateral esquerdo e o ponta direito ficam bem abertos buscando atrair o lateral adversário, abrindo espaço para que o ponta esquerdo e o lateral (ou meia central) infiltrem. Sendo assim, a principal característica de ataque ao espaço de Pottker estaria limitada. Grande parte dos seus gols marcados na Ponte Preta são em jogadas de transição rápida onde ele tem campo para correr ou é acionado em condições de finalizar em, no máximo, dois toques (observe no vídeo abaixo).

Sua utilização no Cruzeiro

O perfil do Twitter @Intertaticando trouxe algumas informações sobre a passagem do jogador pelo Colorado e suas características quando esteve disponível.

Pottker enfrentou todo tipo de sistema por aqui e não conseguiu manter bom rendimento. Ele é um ponta/segundo atacante para ruptura. É o cara para ser municiado por Marcelo Moreno, ganhar na explosão física e finalizar. É um jogador terminal, até interessante se o teu time finaliza pouco nos jogos. Com Odair Hellmann, o sistema era um 4-1-4-1 e isolava ele da área, ficando reduzido à linha lateral, com dificuldades para criar na posição. Com Coudet, foi observado na dupla de ataque. O clima já não existia com a torcida e ele, de fato, somou pouco. O auge dele na Ponte Preta foi com um Roger inteligente para colocá-lo em situações de finalização. Um jogador de finalização e terminal, precisa estar conectado com a invasão da área adversária para render. Faz algum tempo que não o vejo nos seus melhores dias, mas está longe de ser desprezível como a torcida do Inter pode afirmar. Ele não vai resolver problemas sozinho. É raro ver uma jogada individual elaborada por ele, sem ser em transição. No Inter, sempre aparentou ter problemas de posicionamento e de entendimento do jogo. William Pottker é arranque e finalização em essência, precisa ter um sistema para colocá-lo nessas situações. Ele acrescenta uma possível aproximação com o Marcelo Moreno, mas depende bastante do técnico saber guiá-lo.

Como dito, caberá a Enderson Moreira escalá-lo de forma que esteja próximo do gol para ser esse jogador com condições de romper a defesa adversária e pisar na área. No atual 4-2-3-1 da Raposa, é provável que atue pelo lado direito fazendo a movimentação diagonal em busca da finalização, até por ser canhoto. No 4-4-2, pode ser o segundo atacante de mobilidade que aproveita o pivô do centroavante para ganhar terreno e buscar a finalização. O próprio jogador, no ano passado, comentou sobre a relação do seu posicionamento tático e a escassez de gols, assim como as constantes lesões musculares:

A maioria dos meus jogos aqui no Inter foram pelo lado, onde praticamente atuei toda minha carreira. Na Ponte Preta cheguei a jogar centralizado e ali tem de cumprir uma função muito específica, de atacar e defender. Nessa função, em algumas equipes do Brasil, os jogadores jogam abertos, mas não ajudam a defender. Eles só atacam. Se poupar força e velocidade só para atacar, farei muitos gols e vou criar muitas chances. Mas tenho a consciência de que jogo para a equipe, que necessita da minha sustentação defensiva. Muitas vezes me desgasto tendo que roubar a bola do lateral, fazer a cobertura. E ao mesmo tempo tenho de estar na área pra fazer gol. Isso é desgastante, mas sinto prazer em fazer isso. Tem jogadores que ficam na beirada, só nas costas do lateral, sem o desgaste de voltar, e eles poupam as forças deles só pra atacar, ressaltou.

Somando 2019 e 2020, Pottker marcou somente 6 gols e esteve em campo em 31 das 99 partidas do Internacional. Na Série B de 2017, marcou 10 gols e deu 7 assistências em 32 jogos, vivendo seu melhor momento pelo Colorado. No Cruzeiro, terá a oportunidade de repetir esse desempenho atuando novamente pela competição e sendo uma opção de gols num ataque que, até aqui, não vem funcionando. Marcelo Moreno (de pênalti), Maurício, Arthur Caíke e Régis marcaram somente uma vez até o momento. O aspecto físico do jogador deve ser levado em consideração pela comissão técnica e, dependendo dos valores envolvidos, pode-se questionar o negócio. Pottker chega para ajudar, mas como analisado até aqui, não será o salvador da pátria e precisa ser recuperado.

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